quarta-feira, 23 de junho de 2010

Um testemunho autêntico


As lembranças do passado podem ser boas, no entanto, a única coisa que elas podem oferecer a você é “Saudades”que causarão tristeza, e amargura, porque elas já passaram e nunca mais vão voltar, e isto é um fato.
Euclides era um amigo meu, muito alegre, espontâneo que sempre tinha respostas e solução para tudo, até que perdeu seu único filho.
A partir daí ficou amargurado e, ele desejou respostas para o trágico episódio da sua vida.

Euclides foi para o espiritismo e lá o convenceram que na outra encarnação ele era um grande cientista descobridor dos átomos, circuitos elétricos, prótons,que segundo ele, era simples partícula que caracteriza um elemento químico.
(Ao falar sobre isso seus olhos brilhavam).
As revelações afirmavam que, ele teria encontrado dificuldades nas suas pesquisas que nunca se completaram, por culpa de um adversário inimigo, que era seu irmão nesta encarnação, que veio para tentar resgatar o mal que lhe fizera, mas que, no entanto não conseguiu continuando assim a persegui-lo nesta vida também.

O irmão de Euclides era mais velho se tornando um obstáculo sempre a frente, atrapalhando a sua brilhante pesquisa dos átomos e circuitos elétricos (isso afirmava Euclides com ódio).
Euclides acreditou que foi por isso que fracassou na tentativa de ser um cientista, ele foi reprovado 6 vezes no vestibular e nunca conseguiu cursar uma Universidade.

O seu querido filho no caso era nada mais, nada menos, que o seu anjo da guarda encarnado para protegê-lo e encaminhá-lo nesta difícil missão na terra, vendo, porém que o inimigo se fortaleceu e não tinha como o deter, o filho (anjo), percebeu que o único jeito então,era partir para o alem a fim de ter mais condições de ajudar o pai como um anjo de luz.
Tudo isso acendeu luzes na imaginação de Euclides que de dia e de noite incansavelmente se entregou aos seus ideais de ser o grande cientista da época...

Era difícil conversar com Euclides, estava sempre com o olhar perdido no tempo, procurava reflexos e via movimentos estranhos nos arbustos:
- olha as luzes se espalhando em minúsculos pontinhos dançando no ar - dizia ele para mim- enquanto suas mãos tremulas rabiscava formulas secretas no caderno de capa de couro que ele trazia sempre consigo.

Euclides envelheceu e já nos últimos anos de sua vida batia com a colher no prato mostrando sua agressividade até nos mais simples momentos de sua rotina.
Ele acreditava que seu filho o inspirava, mas até então nunca teve êxito em nenhuma das encarnações... Quando a realidade batia de frente impossibilitando a sua fuga para o nada... Ele entendia que seu filho não mais existia de fato, não podia sentir seu cheiro, abraçá-lo, ouvir realmente o som da sua voz, o seu sorriso maroto, e nem sequer o calor da mão branca e macia, acariciando sua face enrugada...

Nos últimos dias de vida fiz companhia para Euclides no sanatório para doentes mentais...Ao lado do seu leito eu podia notar que mesmo dormindo suas pálpebras nervosas mexiam de um lado para o outro, para cima e para baixo como se ainda no sonho a visão perturbadora lhe roubava a serenidade e a paz.

Todas as vezes que ele acordava, era num salto com o coração acelerado e a respiração ofegante,ele me olhava e sorria... E chorava... Nunca esqueceu o meu nome e contava-me em detalhes as luzes e os reflexos que via subindo, descendo, brincando com os átomos e fazendo-o entender que os muitos anéis de sua mente durante toda a sua vida, havia lhe pregado uma peça atrás da outra, porque ele nunca conseguiu superar as tragédias de sua vida, ele as carregava consigo e a cada passo que dava mais pesada a sua carga ficava...

-Todos os dias quando o sol nascia eu desenterrava meu filho e tentava revive-lo: -Dizia Euclides com os olhos azuis quase a saltar sobre mim- Quando a noite chegava- Dizia ele: - trazendo a pesada realidade da solidão... Tristemente eu o enterrava novamente entendendo que ele não estava mais comigo e que vivi uma ilusão... E eu chorava até que a luz do sol batia no meu rosto, secava as minhas lágrimas me incentivando... E eu teimosamente começava tudo de novo...

-Amiga, falou ele baixinho para mim naquela tarde, momentos antes de partir para a eternidade: - Lembra de mim superando a minha ausência sem nunca parar no tempo... A vida é sempre o presente e, sempre será mais do que um simples passo adiante.
Jamais busque respostas na religião, busque a presença de Deus e o seu amor incondicional que, cura tudo com o tempo... Creia que o jugo de Deus é suave e seu peso é leve.

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